22 agosto 2010

Não, nao, nao... Nao posso fazer o que querem.Porque o que quero é nada fazer. A vida ja me trouxe as amarguras e durezas. Navaguei meu rio, e cheguei ao meu mar. Vou devagar me direcionando ao meu oceano. Me deixe aqui. Me deixe só.

21 agosto 2010

Hoje...

Já há algum tempo as minhas ilusões se tornaram mais amenas. Não que nao tenha planos. Ao contrario. Deixei de lado as ilusoes e hoje tenho planos mais reais. A paixao que inundava a minha alma e me fazia viver hoje foi substituída por uma razão ilimitada. Ao contrario dos repentes da juventude hoje anda ao meu lado a consciencia da tranquilidade. Penso de forma totalmente diferente de anos atrás e as vezes me pego olhando para meus filhos e vendo o quanto o tempo ainda vai trabalhar na vida deles. Admiro a beleza da juventude, mas sou feliz no meu inicio de meia idade. Consegui deixar ao meu lado as pessoas que amo, as coisas que gosto.Hoje tenho mais manias, mas aprendi a respeitar opiniões.

13 agosto 2010

Movimento

O sol estava, preguiçosamente, abrindo os braços sobre a terra. Um sol avermelhado, morno, anunciando um dia ensolarado e quente.
Ela, na cama, também abriu os olhos e pensando em se esticar como uma gata moveu as pernas para fora da cama.
Levou um susto. Não sentia o chão gelado. Espantada, olhou para as pernas. Elas estavam ali, lindas, delgadas. Tentou movimenta-las porem nao sentia o proprio peso. Com as maos tentou
toca-las mas também os braços não a obedeciam. Sentiu um aperto na garganta,
um frio imenso no estômago, um medo terrível. Um gemido ecoou de sua garganta. Logo se transformou em gritos de desespero. Lágrimas saltavam de seus olhos. Tentava se movimentar,
porem nada acontecia. Foi tomada de um grande terror, e os olhos, na semi-claridade procurava alguma resposta. Mais ao longe, proximo da penteadeira notou a cadeira de rodas.
Meu Deus - o que esta acontecendo? O desespero tomava conta da sua alma. Não compreendia porque não conseguia se movimentar, que lugar este este onde estava.
Agora os gritos foram se tornando incessantes. Os olhos, e apenas eles, corriam de lado a lado no quarto desconhecido. O suor escorria pelo seu corpo, o esforço para se movimentar era imenso.
Poucos momentos depois, ouviu a porta do quarto se abrindo, e um rosto desconhecido adentrou.
Era uma mulher, jovem, de aparência calma. Perguntou-lhe com carinho se precisava de algo, e gentilmente a ajudou a se colocar na cadeira.
Ela não entendia o que estava acontecendo. Os olhos suplicantes pediam aquela desconhecida que lhe ajudasse, e mexia os lábios em
perguntas. A mulher apenas sorria em resposta. Então notou que ela não podia ouvi-la. Sua voz era somente fruto do seu pensamento. Nem ela mesma ouvia o seu som.
Estava em total desespero, e tentava se mexer, falar....
Então ao longe começou a ouvir o toque de uma buzina. O barulho foi se tornando mais e mais alto. Agora era insuportável. Um vento forte abriu a janela do quarto, e ela sentiu a rajada fria em seu rosto.
Então, abrindo os olhos, acordou do pesadelo.

09 agosto 2010

Vida Simples

Maria era uma mulher muito simples. Sempre o fora. Calada, tranquila, mansa de coração. Morava em uma casinha simples, na comunidade do Passo Largo. Nascera e crescera ao lado de pessoas simples. Muitos ali nem tinham registro de nascimento, mas ela fizera questão de registar os seus três filhos mesmo sem o nome do pai. Um dia, quando eles alçassem voo precisariam deste documento.
Nesta manha, quando o radio-relógio despertou marcando 5.30 da manha, ela se levantou, arranjou os cabelos crespos e desgrenhados em um rápido rabo-de-cavalo, e ainda sonolenta foi ate a cozinha colocar agua pra ferver. O fogão, velho e descorado, só tinha duas chamas funcionando. Voltou ate o quarto, trocou a camisola, e percebeu que o marido não havia voltado para casa nesta noite. Normalmente chegava nas madrugadas e se deitava no velho sofá, ou pelo chão mesmo.
«Desgraçado, bêbado sem vergonha. Não valia mais pira nada, e ainda não a deixava em paz.»
Lavou a boca, escovando os restos dos poucos dentes que sobravam na sua boca, e pensou que daqui a dois meses a teria uma dentadura que a permitisse um sorriso novo. Ficou pensando em todas as economias que estava fazendo nos últimos seis meses para realizar este grande sonho.
Foi ate a padaria do «Seu Onorio». Homem bom, integro, honesto. Viúvo, com 3 crianças pequenas preparava o melhor pão da comunidade. Trabalhava todos os dias, de domingo a domingo, e seu grande desejo era que Maria largasse o marido a toa e viesse viver com ele. Mas não tinha coragem de falar isto a ela. «Deus me livre», pensava e voltava ao trabalho.
Chegando em casa, acordou os filhos, arrumou o pão com manteiga (a patroa havia dado um pote pra eles, quase vencendo, mas quem se importa?).
Os bacurizinhos foram se levantando e vestindo o uniforme. Maria os apressava. Ja eram quase 6.30 e poderiam se atrasar.
Ouviu um barulho no portão, olhou pela janela. Era o marido, cambaleando sobre as próprias pernas. Certamente agora dormiria o dia todo, e quando elas e os meninos voltassem a noite nem o encontrariam. A jornada não era fácil pra ela, mas não costumava reclamar. O importante é que o trabalho de diarista estava dando pra manter os meninos na escola. Quando ouviram a voz do pai, o menorzinho começou a tremer. A mãe, alisando seus cabelos, prometeu que nada aconteceria.
Ele entrou, ja mexendo nas panelas, dando chutes no cachorro vira-latas que viera abanado o rado, numa silenciosa lealdade e alegria. O menininho agora chorava, e o irmão do meio, tímido pediu ao pai que parasse. «Cala a boca, filho da mãe, senso chuto é você.» O mais velho, revoltado o mandou sumir. A mãe, tentando apaziguar, adiantava os meninos. Rapidamente engoliram o pao com o chá-mate e ficaram pronto pro dia na escola. Na porta da cozinha Maria ainda passa a ultima olhada nos filhos. Alisa o cabelo do mais velho, abotoa a camisa do outro, amarra do cadarço do menor. Silenciosamente abençoa as crianças e pede a proteção Divina para eles.
Ao saírem, os olhos da mãe os acompanho por alguns minutos, mas tem muito o que fazer. Ao voltar pra casa, o marido continua a sessão de palavrões e quebradeiras. Ela procura ignora-lo, pois de não adiantaria reclamar. Seria muito pior. Com certeza só começaria uma sessão de tapas, socos e chutes. E prometera nunca mais levar um nico empurrão. Mas o marido, homem ignorante na estava acostumado a ser desprezado. E vou provocando-a com todo tipo de palavrões. Ela se vestia rapidamente, pois ja estava se atrasando para o próximo ónibus.
O homem, vendo que com isto não estava conseguindo nada, puxou a pelo braço, jogou a na cama, e começou a arrancar suas roupas. Ela, rezando baixinho, pediu a Deus que pelo menos fosse parido. Mas a bebida havia derrotado e ele não conseguia ter uma ereção. Era apenas o ódio que crescia dentro dele. E em meio a murros e tapas, ele cada vez mais foi ficando irado. O rosto dela ja estava desfigurado, e agora ela tentava se proteger com os braços, se enrolando no próprio corpo. Isto o instigava a bater mais. Pedia socorro, pelo amor de Deus. Os vizinhos, mesmo ouvindo não iriam fazer nada. Ja era comum isto. o marido continuou a bater e bater. Ela ouvia o som dos próprios ossos sendo quebrados, mais um dente arrancado. Os olhos, cheios de sangue, agora nem o enxergavam direito. A voz, era fraca. Ele não se cansava. Levanta sua vadia, vem lutar comigo. Você ano é a perfeita, não é a boa? E tome murros, chutes, tapas. A inconciencia tomou conta dela. Era um monte de carne e sangue jogado no chão.Nao iria trabalhar hoje, e amanha os meninos não teriam o pão. O homem, cansado da luta, se deitou e dormiu.

07 agosto 2010

Me abdico da vida social. Gosto da minha companhia, da minha solidao. Com ela aprendi a me conhecer, a me aceitar.