21 julho 2010

A fuga

Era uma manha de verão. A fuga havia sido rápida e sem despertar nenhuma suspeita.
Havia 6 meses que eles a mantinham sóbria, e se sentia com sede de liberdade. Sabia que conseguiria enfrentar o mundo la fora sem o álcool. Mas eles teimavam em dizer que ela não estava preparada.
Quase um mês atras a familia - o marido e a filha adolescente - prometeram leva-la embora. Mas eles sequer voltaram para visita-la.
Havia feito amizade com o enfermeiro do periodo noturno e pagava -lhe com alguns favores as informações adquiridas. Não odiava estes pagamentos, porque na verdade seu corpo tambem sentia carência. Ele tinha mãos hábeis e beijos quentes.
Fora ele que lhe contara que a família não pretendia tira-la de la. Que o marido já estava morando com outra, que alias a filha chamava de tia. Uma dor alucinante invadira seu peito. As lágrimas não caíram, mas sim um urro do fundo da alma ecoou no quarto. O homem assustado pedia-lhe que se acalmasse, segurava-lhe as mãos, abraçava seu corpo.
Alguns minutos depois ela se tranquilizou. A noite foi longa e triste.
Na outra manha, começou a arquitetar o plano. Pediu para falar com o diretor, explicou que se sentia bem. Foi em vão. Eles tinham ordens para mante-la ali, presa, abandonada.
Por mais de uma semana sentou e chorou.
Por duas pensou. E nesta manha, com a ajuda do amante, se enfiou em um caminhão de entregas e para longe dos muros partiu.
Poucas horas depois foi recapturada e levada de volta. Nesta noite, em poucos segundos a lamina fez o trabalho frio e misericordioso. O sangue desceu vermelho e quente naqueles pulsos magros e brancos. Encontraram o corpo frio, sem vida. Mas trazia consigo um sorriso nos labios. Havia conseguido. A alma dela estava livre.

0 comentários:

Enviar um comentário