17 julho 2010

Não te amo mais...

As paredes eram brancas. Brancas e frias.
O vento batendo na janela a fazia se lembrar que ainda restava vida fora dali.
Sentada em uma cadeira ao lado do leito, rezava baixinho para que aquilo terminasse rápido.
Na cama, o homem estava pálido e com os olhos fechados. Parece que dormia.
Pensava em si mesma. Em todo o tempo que ainda teria para se alegrar. Não queria pensar em tristeza.
O homem abriu os olhos e devagar girou a cabeça em sua direção.
Os olhos eram amarelados e sem vida.
Abriu a boca e murmurou algo.
Ela se aproximou para ouvir.
Se afastou, olhou bem para ele. Pensou em falar algo. Consolar aquela alma.
Mas não conseguia. Agora depois de tanto tempo ele vinha lhe pedir perdão.
Lembrou-se com amargura de todas as noites passadas em claro, a espera dele.
Pensou nas lágrimas derramadas, nas suplicas que fizera para que ele a amasse, que cuidasse dela.
Pensou nas vezes que não tinha nada para preparar para os filhos comerem e ele nos bares se divertindo com os amigos e as putas.
Pensou nos safanões e tapas. Nos xingamentos. Nas dores sentidas.
Agora ele lhe pedia perdão.
Pensou no amor desperdiçado, na juventude passada a espera de uma palavra de carinho, nas rugas adquiridas, nas lágrimas derramadas.
Se levantou. Os olhos secos, não havia mais lágrimas a derramar.
Se dirigiu ate a porta. Os olhos dele a acompanharam, sem compreender.
Então, em um ímpeto voltou ate a cama.
Segurou-se na beirada, pois se sentia fraca.
As palavras sairam rápidas.
Desculpe, mas eu não te amo mais....
Saiu caminhando lenta e tristemente.
Fechou a porta e se lançou na escuridão silenciosa.

2 comentários:

João Sobreira disse...

Millie, vi teu comentário no meu blog, cheguei até aqui e gostei muito do que vi. Parabéns, não desista do seu sonho de escrever!

Vou te seguir.
Um abraço,
João.

Unknown disse...

Millie, que lindo... Adorei a forma e a delicadeza. Sutil e verdadeiro!
Beijos

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