26 junho 2010

Uma bola, tiquinho de felicidade

Aquelas crianças já nasceram na pobreza. Não se tornariam mais pobres, ou miserareis. Moram
em baixo do viaduto onde passo todos os dias. Aquelas crianças nunca brincaram com vídeo games, nem foram, aos sábados a tarde passear no shopping. Nunca puderam escolher a bermuda ou a camiseta pra usar. Era raro quando tinham alguma roupa limpa. Nunca foram nadar na piscina do clube, nem sabem que o prazer de tomar banho em um chuveiro quente. Eles não tem o aconchego de um quarto para as noites frias. Alguns deles não tem nem recordação do colo da mãe. Muitas vezes paro alguns minutos a observa-las. São crianças magras, sujas, tristes. Passam o dia caminhando e procurando nos lixos o que acham que podem valer alguma coisa. Latas, garrafas e tantas vezes restos de comida.
Mas outro dia foi diferente. Por coincidência, exatamente quando eu estava passando, caiu de uma camioneta uma bola, bem próxima das crianças. Como um flash elas perceberam e logo já estavam correndo para agarrar aquele presente tão inesperado. Sentei para observar. Eram 5 crianças agora. Sim, agora eram 5 crianças que corriam, gritavam, chutavam, sorriam e por momentos eram felizes.

Visitas

Ontem a solidão veio me visitar novamente. estou acostumada com suas visitas, e sendo ser , enclausurada em mim mesma, gosto de estar com ela. A solidão me faz bem. É como parte de mim mesma, me complementando, me fazendo mais tranquila, mais serena. Porem ontem ela veio acompanhada da nostalgia. E, por alguns momentos isto corroeu a minha alma. Fui em busca de companhia, e encontrei risos e alegrias. Elas se foram. E no meio da alegria eu fiquei .

25 junho 2010

Sem medo

Sou sem medo.
Mas sem emoções também.
Sou sem medo.
Mas sem frio na barriga também.
Sou sem medo.
Mas a solidão é minha companheira.
Sou sem medo.
Sou sem ninguém.
Não sou de ninguém.

24 junho 2010

Não sou de ninguem

Ninguém é de ninguém. Todos sabemos disto. Desde muito pequenos, ainda no colo, aprendemos isto. Mas é uma verdade que ninguem gosta de enxergar. Vejo o quanto as pessoas distorcem este fato. Você conhece alguém, começam a conversar. Tudo acontece de forma linda e colorida. O relacionamento vai ficando cada vez mais firme, os sentimentos ja estão mais sólidos. De repente, o que ofereciam um ao outro esta ficando pouco. A cada momento mais e mais vao esperando que a outra parte se doe mais, se entregue mais. Você começa a imaginar então que ja e dono do outro. Não imaginar de fato, mas no fundo realmente acha isto. Espera que as reações da outra pessoa sejam a que teria. Mas, será que você teria mesmo as reações que imagina?
O Sentimento vai ficanto tao egoísta que em nenhum momento você deixa se levar pelo que possa a vir acontecer. Quer dominar e mostrar que o outro precisa exatamente do que se pensa. Não se importa com as vontades do outro. Porque coce ama tanto, que o objeto amado agora é seu. E o egoísmo vai crescendo e sem perceber você perde a pessoa. Mas não acredita que isto possa ter acontecido. Afinal você deu tanto amor, cuidado e carinho. Já percebeu que você sempre acha que você ofereceu tudo que podia ao outro? E que geralmente é o outro que não sabe receber isto? assim você pensa. E se vocês se separam então? A pessoa que estava com você jamais poderá ficar com o seu amigo. Porque você não os perdoaria. E se esquece que talvez o relacionamento de vocês pode não ter dado certo, mas que eles teriam talvez uma chance de ser feliz. Mas se ao contrario, isto acontecer com você vai parecer normal. Esta é a síndrome do ser dono.

22 junho 2010

Estou lendo

Helena - Machado de Assis
O Símbolo Perdido - Dan Brown
Minha Vida - Adolph Hitler

21 junho 2010

A esposa

Marcia sempre foi uma pessoa tranquila e coerente. Em toda a sua infância e adolescencia havia tido poucas aventuras, porem em compensação nunca havia tido maiores problemas. Enquanto a irmã mais jovem era cheia de paqueras e namoradinhos, ela calmamente esperou o homem da sua vida aparecer. O primeiro beijo foi ja com quase 16 anos, e mais dois anos estava casada. É claro que se casou virgem. Nunca teve muitas amigas, era calada e simples.
Já tinha agora 17 anos de casada, os filhos adolescentes. Continuava casada, quieta. Não era bonita, não se vestia sensualmente. Os olhos eram um pouco afastados demais, porem os dentes eram perfeitos e brancos.Suas roupas possuíam poucos decotes e não usava muita maquiagem. Alem do marido, conversava com mais três homens, os dois irmãos e o pai. Nem sogro tinha, e a sogra não a tolerava. Achava que ela era sonsa, e cuidado com as sonsas, sempre dizia ao marido.Mas ele não se importava, conhecia bem a esposa que tinha e sabia que ela nunca seria capaz de traí-lo, pois a sua conduta era impecável.
Foi assim que ela se apresentou para a entrevista de trabalho. Vestida em uma blusa de mangas compridas azul clara, uma saia godê mais escura, sapatos com salto médio. O cabelo limpo e puxado pra trás, bem tratados e brilhantes. Usava oculos para escrever e ler. A entrevista seria daqui a 15 minutos, com o Dr. Carlos, explicou a recepcionista.
Havia se candidatado a esta vaga, após o marido ser demitido. As coisas não andavam bem em casa, e resolveu ajudar. No principio o marido não gostou, mas agora 4 meses depois, não estavam tendo outras opções. A irma a indicou, dizendo que um amigo seu advogado, estava precisando de uma secretaria auxiliar, e não exiga experiencias.
E então, aqui se encontrava.
Passaram se 30 minutos e ela, paciente, continuava a esperar. Quando foi chamada a sala do Advogado estava tensa e as mãos suando.
Ao abrir a porta, se deparou com um homem que aparentava 45 anos, alto, forte. Os cabelos estavam um pouco grisalhos, porem fartos, e os olhos eram de um azul, como em dias de verão. Ao apertar a mão dele, sentiu uma corrente eletrica pelo corpo.
Meu Deus, pensou - o que esta acontecendo comigo?
Mas, em poucos segundos se recompôs.
Conversaram por mais de uma hora, ela fez algumas perguntas a respeito de horários do trabalho e das atividades. Explicou a ela que em algumas ocasiões precisaria que fizessem pequenas viagens e algumas reuniões em finais de semana, e que precisava de flexibilidade da parte dela.
Saiu dali contratada, para voltar no dia seguinte, com a cabeça a mil por hora. Não sabia como explicar a si mesma porque se sentia assim, mas parece que estava flutuando. Sentia o perfume dele na sua mão, e isto a deixava tonta.
Passou o resto do dia organizando a casa, cozinhando e congelando, e fazendo lista de atividades para deixar para os filhos.
La pelas 6 da tarde o marido chegou. Estava cansado e triste. De novo não havia conseguido trabalho. Se sentiu culpada, por ter sido tão fácil a ela.
No outro dia, se levantou bem cedo, se vestiu e se dirigiu ao trabalho. Havia um misto de alegria e tristeza.
Se adaptou com facilidade as tarefas de atender ros telefones, separar os processos, e servir o cafe ao chefe. Em poucos dias era capaz de responder sobre quase todos os assuntos do escritorio.
O chefe continuava a lhe causar certo frenesi, mas nunca ousava nem em pensar neste assunto.
Quando tinha quase 2 meses de trabalho, o chefe a avisou que iriam neste tarde ate uma cidadezinha a 70 km dali, para atender alguns clientes e buscar documentos. No carro, ela nem olhava para o lado, certa de toda a sensualidade e energia que emergia do patrão.
Passaram toda a tarde atarefadissimos, não dando a ela tempo para pensar em loucuras.
Ao voltarem, a noitinha, porem, o chefe a convidou para pararem e beberem alguma coisa. Ah, so um drinque nao faz mal. Afinal estavam cansados e ate em casa seria pouco mais de uma hora.
Um, dois, tres drinques. Ela agora esta solta e alegre. Ria com o chefe, contava sobre a vida de casada, e em certo momento os olhos deles se cruzaram. Em segundos estavam nos braços um do outro. Saíram rapidamente e dentro do carro deram vazão a toda paixão que os sufocava. O desejo era urgente, o amor se consumiu dentro do carro.
De volta pra casa, se sentia culpada e com medo. Chegou na ponta dos pés. Eram 11 da noite e todos ja dormiam em casa. Passou pelo quarto dos filhos, e abrindo a porta bem devagar, viu o marido dormindo. Rapida e silenciosamente tirou a roupa, tomou banho, e se deitou. No outro dia, ao acordar o marido não estava na cama. Sentiu um grande medo. Se arrumou e dirigiu-se a cozinha. Ao chegar, ele já havia preparado o café da manha, e ele e os filhos a aguardavam para a primeira refeição.
Foi recebida com carinho, amor e atenção. Pediu perdão silenciosamente a Deus, e jurou que nunca faria isto novamente.

20 junho 2010

Filmes que assisti.

Alice no Pais das Maravilhas - excelente
Um homem de Familia -bom
Janela Secreta - Imperdivel.

25-06-2009-Coração Louco- Para quem gosta de musica country, alem das pessoas que gostam de um bom drama excelente pedida. Dica: Assista com o som original em inglês. A voz do ator é maravilhosa, e as musicas envolventes.
21-06-2009 - Desafiando Gigantes -Regular
19-06-2010 - Educação. Bom
20-06-2010 - Idas e Vindas do Amor - Fraco.

19 junho 2010

A Minha Ana


Muitas pessoas tem uma Ana na vida. Eu também tenho uma. A minha Ana, me faz tão bem. Tem 15 anos, é jovem, bonita, feliz. Torna os dias mais claros, e as noites mais aconchegantes. Tem certa ousadia no olhar, falar, andar e sorrir. E principalmente em viver. Quase nunca a tristeza vem visita-la, e se vier, ela bota pra correr. Sabe colorir os pontos negros de minha existência. Tem a doçura e a audácia necessárias para transpor os obstáculos. Chora sem ver, ri até sem querer. Ama vencer, mas sabe as vezes perder. Tem a facilidade de se emocionar e derramar lágrimas por causa de palavras ou gestos. Se deita pra descansar e, em poucos segundos esta dormindo de babar. Gosta de conversar no escuro e enrolada na 'Bolha Rosa'. Tem a mania de dar nomes engraçados as coisas. Tem bilhetinhos e fotos pregadas no espelho. E quer ter um mural de fotos. Tem mais de 1500 fotos digitais, e faz biquinho pras camêras. Tenta emburrar muitas vezes, mas não guarda magoas no coração. Apaixona'-se e enjoa com a mesma facilidade. Conhece a maioria dos meninos meninas da escola, sorri com todos, fala com quase todos. Conversa na aula, e se não der, manda bilhetinhos. Dorme ouvindo musica. Musica pra ela, quase todos os ritmos. MBP, AXE, DANCE, FUNK, Romantica, Sertanejo...Tem que tocar é o coração. Tem pernas grossas e luzes no cabelo. Usa chapinha, mas gosta de cachos. Dá risadas altas, sabe cantar os sucessos que estão tocando. Dorme com o celular debaixo do travesseiro, esperando uma mensagem de alguém chegar. Recebe flores, distribui carinho e atenção. Tenta, mas poucas vezes sabe dizer Não. Tem amigos e amigas virtuais e leais. Fica mau-humorada se não tem programa pro final de semana, adora dançar, e seu sonho é ir pra Salvador pular o carnaval. Ama roupa nova, e milk shake. Não é irritadiça e nem mesquinha, mas sabe bem o que quer. Não se importa muito em faxinar o quarto, e as vezes, com muita dificuldade, consegue se organizar. Viaja na Net, e se distrai, mas não gosta de fazer os trabalhos escolares. Ama imensamente a vida, chora de saudades. Se entendia com facilidade, e normalmente deixa escrito quando isto acontece. Copia pedacinhos de letras, escreve longas cartas quando esta amando, se encanta com corações, estrelas e poesias.
Gosta de filmes românticos,
principalmente quando o final é feliz. Ama os gatos de hollywood e da malhação, sonha em casar
na igreja. Quer ter filhos, mas não gosta muito de obedecer os pais, somente se não tiver opção. Acha que cresceu. Tem algumas Melhores Amigas, e considera a prima como irmã. Sabe amar, e acima de tudo, está pronta quando se precisa dela. Tem muitos fãs, mas também é muito fã.
Tem uma Fé em Deus inabalavel, e nao dorme sem fazer suas orações.
Ela me diz: good nigth mommy.
Eu respondo: I love You sweet hearth.
Enfim, ela ama imensamente a vida, e se estamos juntas estamos felizes.

18 junho 2010

Resignação

Era final de tarde de um sábado alegre e ensolarado. Entrou na sala. Ele estava assistindo ao final do campeonato de futebol, com uma cerveja ao lado. Levantou os olhos pra ela e sorriu. Ela se sentou ao seu lado, no novo sofá preto, recém adquirido na loja do genro. Ele a abraçou e puxou para si. Era sempre assim. Sempre estiveram juntos e unidos.
Estava ali para explicar-lhe que não poderia mais aguentar a situação que estava vivendo. Sabia, há alguns meses, de todos os comentários que circulavam pelo bairro, onde moravam há mais de 25 anos.
Mas, agora ali, abraçada a ele, começou a se lembrar de toda uma vida juntos. Lembrava-se de toda a juventude, o amor, a saúde e o respeito dedicados a ele. Se lembrou do primeiro beijo roubado na volta da escola, das mãos entrelaçadas, das promessas feitas. Lembrou-se também quando o namoro foi ficando mais ousado, dos beijos quentes e cheios de desejo, em toda a volúpia da juventude. Se lembrou com tanto carinho quando ele, um belo rapaz, se dirigiu ao seu pai e solenemente pediu a sua mão em casamento.
E o dia do casamento, então? A realização de um sonho. Ela, com o vestido branco, percorrendo ao lado do pai os poucos metros que a separavam da alegria completa. Se lembrava da mãe chorando, emocionada, as amigas com um quê de inveja no olhar. E logo ali, parado a sua frente, ele. O seu Principe Encantado, lindo, garboso, perfeito.
A noite de núpcias foi uma surpresa. O pouco que havia aprendido em revistas e conversas com as amigas foi tentado colocar em pratica, mas sem muito resultado. Mas o carinho e a paixao superaram a inexperiência. E mesmo hoje, depois de tantos anos, sentia um certo comichão quando ele a tomava nos braços e faziam amor.
Se mudaram para uma casinha pequena, no final da vila, onde nasceram e cresceram os cinco filhos. Dois deles ainda permaneciam em casa, e como eram bons os filhos. Todos honestos e sem vícios, pois não tiveram mal exemplo dentro do lar.
Olhou em volta. A casa agora era confortável, grande, arejada. O carro na garagem, os moveis. Sim, haviam superado as dificuldades, criado os filhos, começavam a envelhecerem juntos. Agora ela já podia frequentar o salão da manicure pelo menos duas vezes ao mês. E foi justamente lá, alguns minutos antes que ouvira tudo.
As 'amigas', com uma certa maldade na voz, haviam relatado todo o caso a ela. O marido, em todas as manhãs e tardes carregava a moça ao trabalho e de volta pra casa. Foram vistos algumas vezes também no supermercado, acougue, e até na loja nova de sapatos. E também ficou sabendo, quando ela foi em um pequena viagem até a capital, ele havia ousado leva-la a frequentar o barzinho badalado na praça. Elas não a pouparam nem dos detalhes sordidos, como os beijos e caricias que foram visto trocando. Mas, para parecer que estavam ao seu lado, elas acrescentaram que isto deve ser só um casinho, que ela é jovem, bonita, porem vulgar, mas que ela deviria fazer alguma coisas, se fosse comigo botava ela e ele pra correrem, etc.
Sentiu uma dor forte no peito. A humilhação a cegava. A boca estava seca, o coração disparado. E agora, fazer o que?
Se levantou e dirigiu-se pra casa, caminhando lentamente.
E agora, estava ali, sentada ao seu lado, sentindo seu abraço, o calor que emanava do seu corpo.
As palavras não queriam sair de sua boca. As lágrimas , enxugadas rapidamente, teimavam em cair dos seus olhos,
Resolveu não falar nada e aceitar a muda condição de dividi-lo, porém nao perdê-lo completamente.
Se achegou mais a ele. E quieta ficou.

17 junho 2010

Vizinhas

O menino já tem quase 4 anos de idade. A irmã tem 16 e o outro irmão tem 13. Talvez por isso seja tao mimado. As palavras ainda sao pronunciadas com aquela conversa típica de bebês que estão aprendendo a falar. Mamãe, eu quelo um puiuto...E a mãe acha graça em tudo.
Moram em uma casinha, no fundo da casa dos pais, pois a mãe do menino, quando a filha mais velha tinha 12 anos de idade não aguentou a monotonia do casamento e, com um rapaz de 18 anos resolveu matar o tédio. Claro que o marido descobriu, e agora ela vivia com os filhos e o tal do amante, por piedade dos pais nesta casinha. Era humilhada e cobrada o tempo todo pela mae, que, se designava...dos tempos antigos.
Moram na periferia, e ontem foram até o centro da cidade fazerem algumas compras. Ninguém quer cuidar do menino. O menino chorou, brigou, pediu. A mãe fala.. Fie, fica queto minino. A mãe num tem dinheiro. Ele se senta no chão, dá birras. grita. O nariz escorrendo, a boca arreganhada. Lágrimas? nenhuma. Quando volta pra casa, a mãe esta com as mãos e sacolas arrebatadas das sobras da birra do menino. Um cachorro-quente dado apenas uma mordida, um saco de balas, um violinha pra tocar pro vovô, um balão colorido que em poucos minutos vai ser furado.
Vai pensando no que dizer pros outros irmãos, já que o pouco dinheiro que levou teve que fazer as vontades do menino. Ah, mais tadim, ele é tao pequininim. Os irmãos vão se contentar com as sobras. Fazer o que?
O menino ganhou um franguinho, que cresceu cheio de vontades e sem nenhum limite como ele mesmo. Só que na casa vizinha tem uma cadela que nao deixa nada que caia vivo, sair do quintal. E nesta manha fria, quando o menino vou dar papá pra gainha, ela bateu assas, e com toda a gordura, conseguiu um bater de asas meio torto, alcançando rapidamente o muro.
O menino gritando, a galinha cacarejando, a cadela latindo.
Logo a mãe vem correndo. Mas não consegue salvar a gainha do menino.
As penas logo dão a prova do fato.
A mãe chama a vizinha. O menino chora sem parar. Eu quelo a Malia...
A vizinha tenta argumentar com a mãe, porque deixaram a galinha subir no muro, que deveriam ter cuidado melhor. A mãe não quer saber. Não vão poder deixar o menino chorando deste jeito. A conversa começa a virar discussão. Os vizinhos vão se aproximando. Em poucos minutos os gritos, tapas e puxões de cabelo tomam conta da cena. Ninguém quer entrar na briga.
Finalmente o pai da mãe aparece e termina com a baixaria. A mãe perdeu o pivô, a vizinha ficou com dores na cabeça por uma semana, e o menino levou uns dois sopapos no meio da briga.

15 junho 2010

Partida

Olhava sem parar o relógio amarelado, pendurado no alto da parede a sua frente. Mais alguns minutos e poderia se levantar. O trabalho de recepcionista não era dos piores.
As vezes, é claro, que alguns clientes se comportavam de forma inesperada, mas sempre conseguia contornar as situações. O relogio agora marcava a hora da liberdade. Calmamente levantou, arrumou suas coisas, e se dirigiu a porta. Nao fazia nada com pressa, para saborear mais ainda os momentos de pura liberdade que iria desfrutar.
O ar fresco da noite a fazia se sentir assim: livre.
Com um gesto rápido desprendeu os cabelos, e começou a caminhar pelas ruas que já conhecia como a palma da mão.Um sorriso brejeiro no rosto, um gingado no andar. Era bonita, e sabia bem disto. Por isso mesmo fazia questao de ir pra casa sozinha. O marido muitas vezes havia oferecido para busca-la, mas sempre inventava uma desculpa sobre o valor alto da gasolina, e sobre deixar o filho pequeno sozinho.
Este caminhar para ela, seria como o percorrer de um rio, lento e preguiçoso, faceiro e elegante.
Era feliz.
Sorria para as mulheres, brincava com as crianças, timidamente aceitava os galanteios masculinos. Até cantarolava baixinho velhas canções. Sempre parava na padaria do Sr. Jonas, onde o cheiro do pão quentinho, recem saido do forno, impregnava o ar,. Este pão era o alimento para a familia nas manhas.
Certamente, se estivesse a ver aquela cena sorriria tambem.
Agora, ja no principio da noite, podia ver as estrelas surgindo, e a lua clareando o restante do seu caminho.
Estava tão entretida a pensar em si mesma, que não percebeu o carro que vinha sem faróis e em alta velocidade.
Não teve tempo de dizer adeus ao filho que a esperava para concluir o trabalho escolar, nem ao marido que esperava, vendo televisão, o jantar. Não teve tempo de pedir a bênção para a mãe, nem pode terminar a organização do armário e a lavagem das roupas.
Hoje a velha vizinha não receberia a visita de solidariedade, nem a sopa quentinha.
Ela não assistiria a novela das oito, para ver o galã que, em segredo, sonhava beijar muitas vezes.
A sua irmã não teria com quem se queixar dos filhos adolescentes e preguiçosos, ou do marido bêbado e infiel. Não poderia compartilhar as suas dores e feridas de uma vida triste e miserável.
E as plantas do seu pequeno jardim? Quem se lembraria de regar? Quem alimentaria o gato? Quem cantaria para o filho dormir? Ela não teve tempo de ensinar o caminho árduo, porem feliz de crescer ao filho. Mas teve alguns segundos para pedir a Deus que o protegesse.
Não houve testemunhas. Somente aquele corpo, sem vida jogado no chão.

Partida.

14 junho 2010

Silencio

Silencio.
Como desejava alguns segundos de completo silencio. Este barulho a perturbava. Praticamente a enlouquecia. Cães latindo, crianças gritando, a buzina de um carro. Podia ouvir o barulho ensurdecedor da velha geladeira, e a torneira que não parava de pingar. Destinguiu o som da televisão, e em um pulo, a alcançou e com um clique, conseguiu diminuir o que a atormentava. Não conseguia se ausentar mais em seu mundo. E isto, por causa do tremendo barulho que se ouvia. Parece que o mundo estava contra ela.
- Deus, cale o mundo, pensou em gritar. Mas ate a sua voz seria muito naquele instante.
Os pássaros gorjeavam, pessoas falavam. O vizinho começou a bater com um martelo. Maldito vizinho, teve vontade de matá-lo. Mas não iria resolver, pois outros sons iriam continuar a aumentar a sua irritabilidade.
O vento batia na janela, e no bar, os bebados continuavam a falar com suas linguas enroladas. Duas senhoras matraqueavam sobre a vida alheia, e gargalhavam como se fossem velhas hienas. Não conseguia suportar tanto barulho.
Fechou os olhos, tapou os ouvidos mas mesmo assim podia ouvir.
Resolveu que não iria mais ficar ali, sofrendo, adiando a grande viagem. Abriu a gaveta, pegou a arma fria e pesada. Não poderia calar o mundo, mas iria se libertar. O telefone celular tremeu. Ainda bem que estava ligado no silencioso.
Calmamente se sentou na beirada da cama. Seria o ultimo som. Sentiu o disparo. E depois, em poucos segundos, o silencio completo.

12 junho 2010

Vida de Modelo 2

No corredor não pode esperar o elevador. O dinheiro em sua mão queimava, mas não conseguia abri-la.
Tinha pressa em sair dali, respirar o ar puro da manha, sentir-se livre novamente.
Os seis andares foram descidos as pressas.O barulho surdo das sandálias altas batendo no chão, a faziam se lembrar do som do martelo, que seu pai, todos os dias, durante os longos 16 anos que vivera com ele, provocava, fabricando as caixas para transportar verduras. Pobre homem, pobre trabalho. Desprezava aquela vida pobre, onde o que mas sobrava era a falta. Falta de dinheiro, falta de comida, falta de roupa.
Alcançou a escada. A manhã cheia de um sol dourado e morno a abraçou. Podia se sentir viva de novo.
Como amava as manhãs ensolaradas. Era como se revivesse, se tornasse novamente a sonhadora da noite anterior.
Mais calma agora, e cheia de si , olhou o dinheiro em sua mão.
Poxa vida , como havia sigo generoso o Sr. Maciel.
Pensou que poderia pegar um táxi até em casa. Assim evitaria todos os olhares no ônibus. Afinal, quem sairia as 8.00 da manha de casa, vestida como se fosse pra uma festa? Mas, pensando bem..e daí? Afinal ninguém tinha contas com sua vida, e com o dinheiro economizado poderia passar um tarde inteira no shopping. Respirou fundo e começou a caminhar para o ponto de ônibus.
O onibus chegou lotado e triste. Como eram tristes as caras daquelas pessoas. Não conseguia olhar nos olhos deles. Pareciam que estavam indo para a camara da morte. Ficou por alguns segundos imaginando
Sentou-se ao lado de uma senhora gorda e morena que falava alto ao telefone, tentando explicar para a patroa futil e insolente, que havia perdido o primeiro onibus da madrugada. Desligou o telefone, e dirigindo-se a ela, continuou a explicação. O filho, de apenas 3 anos, que ficava com as duas outras irmas de 12 e 10 anos, havia tido febre alta. Chorava bastante, e ela nao conseguia dormir. Meu Deus, o que tenho com isto? Ela pensava. Resolveu se isolar no seu mundo. Ela havia desenvolvido esta tática desde bem criança. Viajava para o seu mundo particular.
Enquanto o onibus rodava, a mulher falava, começou a sonhar.
Era uma jovem modelo, já bastante conhecida.
Desfilava em Paris, Milao e New York. Lindas roupas, joias deslubrantes. Contava agora com mais de 200 pares de sapatos. Todos colocados em prateleiras, separados por estilos e cores. Tinha verdadeira fascinação por sapatos. Passava horas olhando as vitrines, e, em muitas lojas, onde ainda os vendedores nao sabiam quem ela era, se arriscava a entrar e experimenta-los. Sempre preferia os mais altos e exoticos. Então, na sua miudez, se sentia a altura das outras mulheres. O onibus deu um solavanco. Acordou do seu devaneio.

08 junho 2010

Amanhecer

Acordou meio 'Zen'. A noite mal dormida havia sido um verdadeiro caos, alias como todas as ultimas noites desde que ela e o marido haviam se separado. Não sentiu nenhum animo para se levantar. Sentia um misto de frio e calor percorrer seu corpo. Era assim que se sentia, com esta ausensia do homem que estava acostumada a ver todas as manhas, nos ultimos 20 anos deitado ao seu lado.
Não pode esperar mais. Resolveu que ligaria agora para ele. Iria falar do grande amor que os unia, da perfeita união, do respeito que tinha por ele. Dos planos que fizeram juntos. Poderia inclusive convida-lo para uma viagem de 'segunda lua-de'mel', com as economias q fizera no ultimo ano.
Entao, com a voz doce e «aveludada, susurraria ao telefone o quanto estava carente, com o corpo quente, na cama sozinha, nua, enrolada nos lençois. Que podia ainda sentir as mãos tocando seu corpo, a lingua sugando sua boca, os dedos explorando seu prazer. O cheiro de homem misturado ao cheiro de seu suor, o extase arrebantando-a ate as estrelas. A boca quente descendo sobre seu corpo, e dança frenetica em busca de prazer. Ahhhh...Era arrebatador estar nos braços do unico homem que havia tocado seu corpo, e possuido sua alma.
Mas lembrou se de algo. Maldita lembrança. O homem a havia deixado por uma garota 20 anos mais jovem. Colocou o telefone de lado, baixou a cabeça no travesseiro e chorou.

07 junho 2010

Vida de modelo...

Silenciosamente acordou.
Havia um homem dormindo ao seu lado.
Lembrava-se vagamente daquele rosto.
Arrastando-se, levantou e procurou se ambientar. Onde estava? O que fazia naquele quarto luxuoso, com um homem que não se lembrava? Levantou-se. Estava nua. Sentiu um certo pudor. Não que a nudez a intimidava. Ao contrario. Com um corpo magnifico, belas pernas, rosto exótico, tinha o mundo aos seus pés. O pudor era de perceber que não se lembrava como havia ido parar ali. Logo ela, que havia prometido ser fiel ao namorado, que ate a semana passada ainda a beijava e chamava de meu bem. Bom, alem do amor que sentiam eles não tinham quase nada em comum. Um rapaz simples, morava em um bairro simples, de uma beleza simples, e sonhos simples. Ela, ao contrario, em toda sua juventude sonhava em alçar voo, conquistar o mundo.
Arrastou-se ate o banheiro. Precisava urgente urinar. Sentou-se na privada, agradecendo a Deus por nao precisar ir ate o banheiro mal cheiroso da quitinete que dividia com as três amigas. Precisava dar um faxina la, se lembrou. Mas estragar as unhas postiças caríssimas que havia colocado? Na próxima semana, quem sabe.
Aos poucos foi se recordando. A amiga Katia havia ligado em seu celular, quando ainda estava voltando pra casa, após percorrer quase todas as lojas do Shopping distribuindo curriculuns. Ainda preferia ir ao Shopping pois tinha certeza que algum olheiro a iria descobrir qualquer dia.
A amiga havia descolado dois super convites para uma festa na Grande Mansão. E adivinha quem estaria la? O Sr. Maciel. Viva...a grande chance que precisavam. Simplesmente era o nome mais badalado nas grandes agencias de modelos, revistas, blogs de moda em tudo onde se falava em beleza e glamour. Capricho no visual, la se foram elas.
Festa glamourosa. Duas lindas garotas, em vestidos exuberantes, maquiagem perfeita. Podia sentir os olhares masculinos de desejo e perceber os femininos de inveja.
Noite adentro, drinques, apresentações, sorrisos. Logo estavam no centro de um grupo de homens.Os assuntos eram diversos. Crise mundial, carros, conquistas amorosas, viagens a lugares paradisíacos. Quase meia-noite, e ela percebeu uma leve tontura. Mas nao era desagradável. Ajudava a relaxar e colocava um sorriso sensual em seus lábios. Aprendera, em uma revista feminina, que os homens gostam de mulheres bem humoradas. Uma hora da manha, as pessoas ja falavam mais alto. Sentiu um toque em seu ombro. Era a amiga, apresentando-lhe o Sr. Maciel. Bem, nao era tao jovem quanto aparecia nas revistas e televisao. Mas era o Homem que iria abrir-lhe as portas das passarelas, e junto com elas todo o glamour, fama e dinheiro que tanto sonhava.
Em seus lábios o melhor sorriso, uma sensualidade no olhar...
Acordou neste quarto.
Levantou-se da privada. Pela cortina cortina branca e fina, viu o sol beijando timidamente a manha. Precisava sair dali. Lavou do rosto a maquiagem borrada. Era bela. Mas havia perdido o brilho no olhar. Sentiu náuseas, quis vomitar. Nao tinha tempo.
Rapidamente se vestiu, desejando os shorts velhor e a camiseta rosa larga.
Abriu a porta e estava saindo, quando ouviu uma voz lhe chamando...
Ei, Psiu, Garota... seu pagamento.
Voltou-se, olhou para aquele homem.
Aproximou-se, e silenciosamente, pegou o dinheiro e foi-se embora.

Frases..

«A saudade que sinto não me consome. Ao contrário. Ela acrescenta um tom perfumado a minha vida...

O Garotinho...

O Garotinho...


Pareceu estranho no primeiro instante. Mas em seguida, ela que é a Mãe, compreendeu a situação. Compreendeu, mas não aceitou, e tinha grandes argumentos.
Então o ¨seu filho¨, que ela sempre teve o maior cuidado, carinho e amor, havia decidido que era hora de partir?
Não que ela esperasse que eu passaria toda a juventude ao lado dela. Claro que não. Afinal não criamos os filhos para nós mesmos. Criamos os filhos para o mundo.
Mas será que ele não poderia ter esperado um pouco mais? Logo agora que a irmã adolescente estava tão rebelde? Então se a menina ficasse mais alguns dias sem falar com ela, quem iria se fazer de ponte, transmitindo ordens e recados?
Logo agora, que ela havia 'ate q enfim', conseguido se livrar daquele namorado complicado e sem futuro, e não teria companhia para as noites de sábado?
E quando ela tomasse algumas cervejas na casa do irmão..Quem viria dirigindo o carro, que alias estava muito precisando ir a oficina, mas ela não esta acostumada mais a levar, afinal ele que cuida disto agora. E a dieta...como iria ficar? ela não conseguiria continuar fazendo sem o incentivo do filho.
E a noite, quando o tédio batesse, quem iria chegar com jeitinho e carinho, e dizer.. Mãe, faz um chá pra mim?
O vide-game, os filmes de aventura tipo Piratas do Caribe. Que graça vai ter, sem ele pra ver junto?
Não...Ela não pode permitir a partida deste filho.
O gato vai sentir a falta dele. Os vizinhos vao perguntar pelo filho tao educado e carinhoso dela. E ela vai acabar chorando de saudades.
Mas mãe, eu preciso continuar a minha vida. Ja tenho 19 anos, vou trabalhar e estudar. E afinal, mãe, são apenas 50 KM. Venho visita-la todos os finais de semana. Te amo...
Sim. Ela sabe. E sabe que ele virá nas primeiras semanas, talvez nos primeiros meses. Mas a vida vai mudar. Ele cresceu. Mas, pra ela, ainda é o seu garotinho..