12 junho 2010

Vida de Modelo 2

No corredor não pode esperar o elevador. O dinheiro em sua mão queimava, mas não conseguia abri-la.
Tinha pressa em sair dali, respirar o ar puro da manha, sentir-se livre novamente.
Os seis andares foram descidos as pressas.O barulho surdo das sandálias altas batendo no chão, a faziam se lembrar do som do martelo, que seu pai, todos os dias, durante os longos 16 anos que vivera com ele, provocava, fabricando as caixas para transportar verduras. Pobre homem, pobre trabalho. Desprezava aquela vida pobre, onde o que mas sobrava era a falta. Falta de dinheiro, falta de comida, falta de roupa.
Alcançou a escada. A manhã cheia de um sol dourado e morno a abraçou. Podia se sentir viva de novo.
Como amava as manhãs ensolaradas. Era como se revivesse, se tornasse novamente a sonhadora da noite anterior.
Mais calma agora, e cheia de si , olhou o dinheiro em sua mão.
Poxa vida , como havia sigo generoso o Sr. Maciel.
Pensou que poderia pegar um táxi até em casa. Assim evitaria todos os olhares no ônibus. Afinal, quem sairia as 8.00 da manha de casa, vestida como se fosse pra uma festa? Mas, pensando bem..e daí? Afinal ninguém tinha contas com sua vida, e com o dinheiro economizado poderia passar um tarde inteira no shopping. Respirou fundo e começou a caminhar para o ponto de ônibus.
O onibus chegou lotado e triste. Como eram tristes as caras daquelas pessoas. Não conseguia olhar nos olhos deles. Pareciam que estavam indo para a camara da morte. Ficou por alguns segundos imaginando
Sentou-se ao lado de uma senhora gorda e morena que falava alto ao telefone, tentando explicar para a patroa futil e insolente, que havia perdido o primeiro onibus da madrugada. Desligou o telefone, e dirigindo-se a ela, continuou a explicação. O filho, de apenas 3 anos, que ficava com as duas outras irmas de 12 e 10 anos, havia tido febre alta. Chorava bastante, e ela nao conseguia dormir. Meu Deus, o que tenho com isto? Ela pensava. Resolveu se isolar no seu mundo. Ela havia desenvolvido esta tática desde bem criança. Viajava para o seu mundo particular.
Enquanto o onibus rodava, a mulher falava, começou a sonhar.
Era uma jovem modelo, já bastante conhecida.
Desfilava em Paris, Milao e New York. Lindas roupas, joias deslubrantes. Contava agora com mais de 200 pares de sapatos. Todos colocados em prateleiras, separados por estilos e cores. Tinha verdadeira fascinação por sapatos. Passava horas olhando as vitrines, e, em muitas lojas, onde ainda os vendedores nao sabiam quem ela era, se arriscava a entrar e experimenta-los. Sempre preferia os mais altos e exoticos. Então, na sua miudez, se sentia a altura das outras mulheres. O onibus deu um solavanco. Acordou do seu devaneio.

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